Um breve retrospecto: do impresso ao digital
Os sites começaram como jornais digitais — páginas estáticas que utilizavam práticas conhecidas de diagramação, hierarquia e redação de notícias para um novo meio de comunicação. Seu valor era evidente — as pessoas podiam acessar informações (e as marcas, atingir pessoas) de forma mais direta do que por meio do impresso, rádio ou TV. No entanto, à medida que a web revelou sua natureza interativa, os designers descobriram que já não estavam apenas organizando conteúdo. Estavam desenvolvendo serviços de ponta a ponta, viabilizando novos modelos de negócio e redefinindo como empresas e clientes se conectavam online.
A era da experiência: projetando a jornada
Ao longo das décadas, passamos de “telas” para “ecossistemas”. As equipes de experiência do usuário hoje orquestram jornadas completas — ao longo de múltiplos momentos, dispositivos e contextos — garantindo que as interações sejam intuitivas, humanas e satisfatórias. O escopo do design já ultrapassou os pixels — hoje ele inclui o mapeamento de necessidades não atendidas, a articulação dos pontos de contato ao longo do serviço e a tradução da estratégia de negócios em decisões centradas nas pessoas.
A IA reduz distâncias
As IAs generativas e preditivas estão impulsionando o design para sua próxima transição. As IAs generativas e preditivas estão impulsionando o design para sua próxima transição. Quando a tecnologia é capaz de interpretar intenções, raciocinar sobre grandes volumes de dados e agir em nome do usuário, a distância cognitiva entre necessidade e solução diminui consideravelmente — às vezes, a zero. Interfaces tornam-se transparentes; caminhos que antes exigiam navegação visual passam a acontecer por meio de conversas instantâneas ou automações silenciosas.
Esse cenário implica que grandes partes do trabalho tradicional de interface visual desaparecem. De forma repentina, o ato de projetar uma interface deixa de existir como antes — o produto passa a ser entregue por meio de uma simples frase, um gesto ou uma automação que opera silenciosamente em segundo plano.
O que desaparece — e o que permanece
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Perde relevância |
Ganha relevância |
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Protótipos visuais em alta fidelidade |
Estruturação estratégica de problemas |
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Documentações de hand-off impecáveis |
Concepção de produto alinhada ao negócio |
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Guias de estilo estáticos |
Tom conversacional dinâmico e construção de persona |
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Produção manual de UI |
Orquestração de jornadas com base em dados |
Ainda assim, a criatividade permanece como o fator humano essencial. Alguém precisa decidir quais problemas merecem ser resolvidos, por que são relevantes e como os valores da marca devem se manifestar quando não há mais pixels visíveis.
Novos perfis em ascensão
- Especialistas em conversação: moldam personalidade, voz e tom adaptativo em interações por chat ou voz, garantindo consistência e empatia.
- Analistas comportamentais: combinam psicologia, antropologia e sociologia para interpretar padrões de uso revelados por telemetria de IA.
- Orquestradores de resultados: desenham jornadas de ponta a ponta em que agentes inteligentes negociam, operam e entregam soluções com autonomia.
- Gestores de ética e confiança: atuam como responsáveis diretos pela responsabilidade algorítmica, alinhando decisões automatizadas a valores humanos e normas sociais.
No curto prazo: primeiro eficiência, depois transformação
Curto prazo (hoje até os próximos 2 anos)
A IA potencializa fluxos de trabalho existentes: bibliotecas de padrões, geração de código e testes de usabilidade passam a ser semiautomatizados. Com menos especialistas, é possível produzir mais entregas de interface tradicional.
Médio prazo (de 2 a 5 anos)
O pensamento “tela em primeiro lugar” perde força. Experiências multimodais e agentes dominam pilotos e produtos periféricos. Equipes de design passam a atuar mais cedo, integradas a times estratégicos e em parceria com lideranças de produto e negócio.
Longo prazo (acima de 5 anos)
Interfaces que lembram jornais — ou mesmo aplicativos clássicos — tornam-se nichadas. A forma predominante de interação passa a se parecer com um diálogo fluido com um profissional altamente preparado e que compreende o contexto do usuário. O valor do design migra completamente para a interpretação contextual, ideação e governança ética.
Como as organizações podem se preparar
- Reformule a missão do design – Avalie o sucesso com base nos resultados entregues, não nas interfaces lançadas.
- Invista em fluência multidisciplinar – Incentive designers a estudarem estratégia de mercado, ciência de dados e pesquisa comportamental.
- Prototipo com agentes, não com telas – Teste fluxos conversacionais e jornadas autônomas desde o início; trate a interface visual como recurso de apoio.
- Fortaleça a governança ética – Estabeleça princípios claros e comitês de revisão para que a velocidade das iterações com IA não ultrapasse os limites da responsabilidade.
- Promova a requalificação contínua – Ofereça caminhos claros para a migração de designers visuais ou operacionais para novas funções emergentes.
Design na era da interface invisível
O design sempre teve como propósito tornar a intenção algo tangível. À medida que a IA torna a interface invisível, a intenção passa a ser o próprio produto. As equipes que abraçarem essa mudança – atuando desde a definição estratégica do problema até a governança ética dos resultados – estarão à frente na próxima era. Longe de perderem relevância, as práticas de design estarão mais integradas do que nunca ao núcleo estratégico do negócio, atuando como ponte entre as aspirações humanas e as soluções viabilizadas pela tecnologia com velocidade e precisão.