De acordo com a última edição do estudo Insurtech Global Outlook 2023 da NTT DATA, a América Latina teve uma baixa participação nos US$ 8 bilhões gerados em negócios pelo setor de insurtech no ano passado. O mesmo relatório identificou uma série de tendências que tanto as seguradoras quanto as insurtechs da região podem aproveitar para dar um salto para seu próprio futuro. Para isso, é necessário primeiro enfrentar uma forte mudança de mentalidade.
O setor de seguros, com um longo histórico de foco no produto, tanto na América Latina quanto globalmente, demanda uma evolução cultural e de conceito de negócios. Nos tempos atuais, é preciso colocar o cliente no centro das operações e desenvolver uma mentalidade de ecossistema. Aqui estão as cinco tendências que estão transformando o setor e o papel das insurtechs nesse processo.
A era da distribuição inteligente
Os modelos e os canais de vendas passam por mudanças. Com as pessoas no centro do negócio, um "seguro de automóvel" já não é mais suficiente. A seguradora deve pensar em como proteger a mobilidade das pessoas em sua totalidade, independentemente do meio de transporte (veículo próprio, transporte público, ciclista) ou da finalidade (cotidiano, trabalho, férias).
A distribuição inteligente está associada à mentalidade do ecossistema. Não se trata apenas de lançar a proposta certa, mas de fazer isso por meio do canal certo no momento certo. Uma companhia aérea pode ser a parceira ideal para incorporar o microsseguro em cada bilhete aéreo, um mercado ou um varejista pode ser o canal para fazer o seguro contra danos e roubos de celulares. Na região, vemos até mesmo microsseguros para usuários de aplicativos de delivery que são ativados durante a realização da entrega.
Foco em saúde e bem-estar
Uma das tendências identificadas pelo relatório está ligada à crescente importância atribuída à saúde e ao bem-estar das pessoas. Mundialmente, 80% consideram que os seguros de vida e saúde estão entre os principais benefícios que um empregador pode oferecer. Ao mesmo tempo, as empresas registram um aumento nos custos dos planos de saúde e das licenças, o que prejudica a produtividade. A América Latina não é exceção em nenhum desses dois casos.
Por isso, as seguradoras, juntamente com empresas de outros setores, como o farmacêutico, o de tecnologia e o de telecomunicações, têm a oportunidade de formar ecossistemas digitais que complementem os prestadores de serviços de saúde na promoção do bem-estar e de estilos de vida saudáveis ou no monitoramento da evolução de doenças crônicas. Já não se trata mais de fornecer cobertura financeira para um tratamento, mas de intervir antes que a doença ocorra. É mais importante contribuir para a saúde do que pagar pelas consequências da falta de saúde.
Da sustentabilidade à cibersegurança
Esse conceito de proteção ativa é transversal para o setor de seguros. Pode ser visto em um setor tão relevante economicamente para a região quanto o setor primário. O crescimento de fenômenos meteorológicos adversos como consequência da mudança climática tem um impacto sobre os resultados das seguradoras, fazendo com que elas adotem tecnologias como sensorização e IoT (muitas vezes por insurtechs) para antecipar respostas e minimizar danos. O papel das seguradoras na sustentabilidade ambiental será cada vez maior.
Nas três tendências anteriores, o setor se vê forçado a repensar e se reinventar, adotando modelos preventivos e operando em um ecossistema. Na quarta tendência, está aprendendo diretamente a desenvolver soluções para um risco muito recente: cibersegurança e ciberataques. Isso envolve uma avaliação abrangente, desde a forma como os riscos de segurança são analisados até as medidas que o cliente deve cumprir em termos de infraestrutura e proteção para conceder uma apólice, assim como as parcerias que devem ser estabelecidas com empresas especializadas para garantir a cobertura adequada.
Aprofundar a digitalização
A quinta tendência é a mais utilizada pelas empresas do setor na região: a automação inteligente de processos, desde o tratamento de sinistros até a contratação autônoma de microsseguros.
Para finalizar, é necessário mencionar dois aspectos muito relevantes para que possamos ver um maior crescimento no setor de insurtech na região e para que as seguradoras tradicionais possam acelerar sua transição para agentes de proteção ativos.
De um lado, é preciso que os diferentes órgãos reguladores nacionais entendam que esses avanços são vitais para promover o desenvolvimento e adotem posições a favor da inovação tecnológica no setor de seguros. Nesse ponto, o Brasil ganha destaque na região, gerando dinamismo ao setor e impulsionando o investimento em insurtech no país por meio de medidas como a regulamentação do Open Insurance ou o sandbox regulatório. Quatro das cinco únicas startups latino-americanas mencionadas no relatório são brasileiras (Latú, 180º Seguros, Darwin Seguros e dr.consulta), e a quinta é uma empresa chilena (Betterfly).
De outro lado, é necessário derrubar barreiras culturais e que as seguradoras tradicionais comecem a ver as insurtechs não como concorrentes, mas como parceiras tecnológicas que, paradoxalmente, podem garantir seu futuro no mercado.