Como designers, um dos nossos papéis é transmitir informação através de uma interface de forma simples e direta. O que fica por trás disso são princípios, métodos, técnicas que nos auxiliam a transformar tantas variáveis em algo acessível para todos.
E a pergunta de ouro é: como tornar a experiência de acessar um produto/serviço equivalente para todos? Neste artigo iremos navegar um pouco sobre os princípios do design inclusivo como uma ferramenta de acessibilidade.
Mas antes de tudo, o que é acessibilidade?
Esse é um momento de parar um pouco e refletir: para você do que se trata essa tal de acessibilidade?
Trazendo o conceito do dicionário, a palavra acessibilidade significa: “propriedade do material confeccionado para que qualquer pessoa tenha acesso, consiga ver, usar, compreender;”
Com isso, podemos dizer que a acessibilidade beneficia a todos. É uma forma de incluir, dar autonomia para a sociedade e quebrar as barreiras do mundo físico e/ou digital. É com ela que pessoas com deficiência, idosos, conseguem ser independentes para realizar as atividades do dia a dia e ser um bom consumidor como qualquer outro.
Por que projetar pensando na acessibilidade?
“De acordo com o Censo 2010, quase 46 milhões de brasileiros, cerca de 24% da população, declarou ter algum grau de dificuldade em pelo menos uma das habilidades investigadas (enxergar, ouvir, caminhar ou subir degraus), ou possuir deficiência mental / intelectual.”
Todas essas pessoas podem fazer parte do público das nossas soluções, a deficiência e/ou a idade não é um problema, as barreiras que colocamos que são. Com um design não acessível, impossibilitamos as pessoas de consumirem informação, produtos, serviços, de se incluírem na sociedade.
Se isso ainda não é um motivo para seguir com um design inclusivo, é bom pensar que todas as pessoas podem ter deficiências em algum momento das suas vidas, sejam elas permanentes ou temporárias.
Além da vantagem de ter uma gama maior de usuários, a acessibilidade é uma forma de obter mais vantagem competitiva, autonomia de uso, aumento das vendas e de ter um design que o usuário conclua o seu objetivo, com o mínimo de esforço necessário e o máximo de satisfação possível.
Os princípios do design inclusivo
O termo design inclusivo foi utilizado pela primeira vez em 1994 na Inglaterra por Coleman, que tinha como intuito expor para a indústria e o mercado britânico o potencial de projetar e comercializar produtos que fossem mais acessíveis para todos.
“Os Princípios do design inclusivo tratam basicamente de colocar as pessoas em primeiro lugar. É sobre projetar produtos pensando em necessidades específicas de pessoas com deficiências permanentes, temporárias, situacionais ou mutáveis de acordo com suas respectivas situações, ou seja, na verdade é projetar pensando em todos nós.” -Acessibilida.de
Aqui vão alguns princípios do design inclusivo:
1. Proporcione uma experiência equivalente
Cada pessoa tem as suas próprias experiências, a sua maneira de abordar e se portar com o mundo à sua volta. Com isso, o primeiro princípio do design inclusivo trata de fomentar a criação de interfaces que proporcione uma experiência equivalente, para que todos possam executar ações e tarefas com a mesma autonomia.
Por exemplo: no seu site tem uma imagem bastante ilustrativa. Como tornar essa informação proporcional para pessoas com baixa visão? Algo muito utilizado são as descrições que falam de forma completa e objetiva fatos sobre a imagem, trazendo uma experiência equivalente para o usuário.
2. Considere todos os contextos
Essa segunda premissa, reforça o primeiro princípio, proporciona uma experiência equivalente para todos, independente das situações.
As pessoas têm necessidades distintas e podem utilizar o seu produto/serviço em diferentes situações, como: estar apressado; com alguma emergência; estar fora de casa; ou com as mãos sujas.
Por exemplo: você fez um texto de baixo contraste com o fundo, mas para você que tem uma ótima visão dentro de casa a leitura é fácil. Para o usuário que utiliza a sua interface no meio da rua num dia ensolarado ou se ele possui uma baixa visão, como funcionária?”
3. Seja consistente
Além de ser uma questão de usabilidade, a consistência reforça o significado de cada interação. Quando existe uma repetição de padrões, seja na comunicação, nos comandos, nas tarefas realizadas, isso ajuda as pessoas a memorizarem e compreenderem facilmente como funciona a interface, dando mais autonomia para o usuário.
Por exemplo: nesse tópico onde abordamos os princípios do design inclusivo, adotamos o seguinte padrão: numeração da ordem+título do princípio+ descrição+ exemplo. A consistência cria familiaridade e fica mais fácil de entender as informações que irão ser passadas.
4. Ofereça controle
O usuário precisa estar no controle e ter autonomia nas interações com o seu produto/serviço. Por isso, alterações de configuração não devem ser feitas de forma automática, a pessoa deve ser capaz de definir como vai interagir com a interface.
Por exemplo: algo comum é estar lendo alguma informação no carrossel de um site, e em alguns instantes, muda para outro bloco de conteúdo. Essa falta de controle em alguns contextos levam os seus usuários a desistirem do fluxo ou da informação fornecida.
5. Deixe o usuário decidir
A flexibilidade na execução das diversas ações dentro de um artefato é um fator muito importante para um design inclusivo. Vale refletir que cada pessoa pensa de uma forma, e isso, acaba interferindo na maneira como elas preferem realizar tarefas, principalmente quando esse nível de complexidade é alto.
Por isso, é importante pensar na flexibilidade das interações para que cada usuário possa interagir da forma que lhe for mais prática e intuitiva.
Por exemplo: quando utilizamos a funcionalidade copiar e colar temos as possibilidades de usar o atalho do teclado, o mouse, podemos salvar a imagem no computador e depois colar no local correto, entre outras maneiras, e isso varia de pessoa para pessoa e de contexto também.
6. Priorize o conteúdo
O conteúdo é um dos fatores primordiais para o design inclusivo. É com ele que conseguimos prover artefatos de fácil interpretação, intuitivos e simples. Muitas vezes não é isso que acontece e acaba tendo um acúmulo de informações dentro de uma interface, para isso, reveja qual o objetivo central por trás da tela e destaque o conteúdo e as funções necessárias para cumprir esse propósito.
Por exemplo: quando nomeamos um botão, link ou alguma categoria, é essencial ser objetivo e claro para que esses textos sejam mais fáceis de serem processados visualmente falando e simples de decifrar para usuários de leitores de tela.
7. Agregue valor
Por fim, os recursos e funcionalidades implementados devem agregar valor à experiência do usuário, tornando mais eficiente e diversificada a interação com o conteúdo.
Por exemplo: a opção de configurar a fonte de um site para um tamanho maior, é uma funcionalidade que agrega valor na experiência do usuário de consumir aquele conteúdo de forma mais agradável.
Quais medidas práticas você já pode começar a tomar nos seus trabalhos e conteúdos para torná-los mais acessíveis?
1. Teste
Habilite o leitor de telas do celular e teste como seria navegar pela sua interface. Teste como seria ouvir a descrição das imagens e audiodescrição dos vídeos. Utilize outras ferramentas de acessibilidade que te ajudem a ter novas perspectivas.
2. Use e abuse do WCAG
Utilize o guia de consulta rápida para as Diretrizes de Acessibilidade para o Conteúdo Web do W3C.
3. Descrição da imagem
Comece a descrever as imagens que você posta nas redes sociais e as imagens que utiliza nos seus projetos.
4. Faça conexões
Faça conexões com as pessoas que falam sobre acessibilidade, converse com pessoas da área, com pessoas que passam por essas barreiras causadas pela falta de acessibilidade no dia a dia.
5. Plugins valiosos
● Stark: checa o contraste do texto com um background;
● Color Blind: permite que você visualize seus designs nos 8 tipos diferentes de cores para pessoas com daltonismo;
● Constrast: torna mais fácil verificar as taxas de contraste das cores enquanto você trabalha.
● A11y — Color Contrast Check: certifica que seu texto seja legível para os usuários, aderindo aos padrões WCAG (Web Content Accessibility Guidelines).
Por fim, o que queremos trazer com este artigo é a importância da acessibilidade para todos, como ela deve ser implementada nos nossos projetos e no nosso dia a dia. Precisamos, como designers e sociedade, nos engajar e lutar pela experiência equivalente para os nossos usuários.
“Se o Lugar não está pronto para receber todas as PESSOAS, o lugar é DEFICIENTE”. — Arquiteta Thais Frota
Este artigo foi escrito com base nos princípios do design inclusivo da acessibilida.de.