Se em 2022 o 5G foi um dos principais “trend topics” em qualquer veículo de comunicação especializado em tecnologia, no ano de 2023 esse espaço foi ocupado pela inteligência artificial.
Embora o Chat GPT seja a primeira coisa que venha à cabeça da maioria das pessoas, a IA tem uma vasta gama de aplicações que trarão benefícios a diversos processos nas mais diversas indústrias e setores, colaborando para a evolução em direção a automação e no estabelecimento do que é chamado Indústria 4.0: automação através de algoritmos; robótica; machine learning / deep learning; processamento de linguagem; visão computacional com análise de imagens; reconhecimento de padrões e variações desses, são outras implementações onde a IA será fortemente usada.
Vemos, nos dois últimos anos, um crescimento muito grande da capacidade de conectividade com o 5G, que, juntamente com a capacidade de latências muito baixas, vieram a proporcionar a implantação de serviços sensíveis a atraso. Logo na sequência, vemos a explosão do uso de IA, que também contribuiu muito para casos de uso de automação, onde a tomada rápida de decisão é fundamental, permitindo assim o desenvolvimento de diversos casos de uso de IoT. Esses dois fatos juntos empurraram o mercado para um momento de euforia muito grande, inclusive trazendo discussões acaloradas sobre qual será o impacto das máquinas no mercado de trabalho.
Como em qualquer momento de euforia, um segundo momento de racionalização se segue e muitas reflexões aparecem.
Vislumbramos um futuro em que todas as “coisas” estarão conectadas a internet, bem como antecipamos um uso massivo da inteligência artificial. Isso nos leva a refletir sobre como lidar com o enorme processamento extra necessário e o consequente consumo de energia associado a essa capacidade extra. Conseguiremos suportar esse salto na demanda de energia?
Para exemplificar, há estudos que mostram que, se todas as perguntas realizadas atualmente nos sites de busca da internet fossem instantaneamente transferidas ao ChatGPT, muito provavelmente haveria falta de energia no mundo para alimentar os novos servidores que seriam necessários. Essas análises mostram em acréscimo de 30% na demanda mundial de energia. Num cenário crescente de preocupação com sustentabilidade, esses dados são extremamente preocupantes.
A solução para esses temas está no uso mais racional dos recursos associados tanto ao 5G como a IA. A computação na borda (do inglês “Edge Computing”) e os devices inteligentes com IA embarcada contribuirão de maneira decisiva para toda essa evolução que se espera nos próximos anos.
Começando pelo extremo da rede, pelo device do usuário, seja ele um smartphone ou smartglass, ou uma câmera com inteligência artificial, o processamento de parte da informação na ponta da rede, associado a padrões e algoritmos aprendidos pela IA, proporcionarão o uso mais racional dos recursos como um todo, sejam os recursos de acesso, de transmissão, mas principalmente os recursos dos servidores que compõe o CORE das redes e onde hoje se processa grande parte da inteligência artificial associada às aplicações. Assim, a IA terá um papel fundamental na racionalização de todos os recursos usados na rede.
Juntamente com a IA, a computação na borda proporcionará também uma diminuição nos recursos de transmissão e uma hierarquização dos recursos de processamento, permitindo a existência de “data centers” menores próximo ao “Edge” das redes e a diminuição dos enormes “Data Centers” com altíssima capacidade de processamento. Somado a isso tudo, ter um processamento mais próximo da borda também traz uma resposta mais rápida, com menor atraso, contribuindo para os casos de uso onde não se pode ter latência extra.
Dessa forma, os devices inteligentes e o processamento de borda vão alavancar a implementação do 5G, pois possibilitarão os casos de uso que realmente justificam o investimento nas novas redes 5G tanto pelas operadoras como pela organização que venha a decidir a administrar sua própria rede privada 5G. Essas duas características também permitirão uma otimização do número de células 5G necessárias para cobrir determinadas áreas ou o uso por um maior número de usuários simultâneos, sem que haja qualquer impacto na qualidade da rede.
Enfim, a IA e a computação de borda perfazem o complemento esperado para a expansão do 5G e suas múltiplas aplicações.