Os últimos anos mostraram que grande parte das grandes empresas no Brasil já tem a filosofia ágil em seus processos. Se não tivessem, dificilmente teriam conseguido se adaptar às mudanças exigidas durante o auge da Covid-19. Somente companhias resilientes e com alta capacidade de resposta a mudanças reduziram danos ou, em última instância, sobreviveram.
Um recente estudo publicado pela NTT DATA com 388 organizações de sete países da América Latina, entre eles o Brasil, mostrou a maturidade na adoção da Agilidade. Metade das empresas entrevistadas adotam a filosofia entre três e cinco anos e 20%, há pelo menos seis anos. Mais: 72% montaram escritórios de transformação – e 34% possuem mais da metade de suas equipes trabalhando com essa metodologia.
São números que indicam um grau razoável de adoção da filosofia ágil da região. Somente 33% das empresas da região estão implantando Agilidade há menos de dois anos. E a Agilidade aparece cada vez mais em áreas fora dos domínios de Tecnologia, como RH e marketing.
Podemos ir além e contextualizar o grau de maturidade das empresas posicionando-as em uma das quatro ondas de evolução da Agilidade.
O primeira onda teve início há pouco mais de 10 anos. É a que chamamos de Agilidade nas Equipes, quando as empresas formam equipes ágeis de desenvolvimento. Foi a experimentação e popularização dos principais frameworks de Agilidade como o Scrum e o Kanban. A onda seguinte, iniciada em meados de 2015, foi sobre Agilidade em Escala, ou seja, o agrupamento de equipes ágeis em estrutura complexas em torno da construção de produtos digitais. Nessa onda, a Agilidade passa a ser um padrão na construção de produtos digitais e se concentra basicamente na área de Tecnologia.
A terceira onda é a que leva a Agilidade para os negócios: Agilidade se torna parte do dia a dia da organização, desde a forma como a organização se estrutura em torno do valor, até no como a empresa se adapta às mudanças de mercado. Todas as camadas da organização adotam a mentalidade ágil para concepção e entrega do valor de negócio. É também o momento da experimentação e adoção de agilidade em áreas fora da área de Tecnologia.
A quarta onda, é quando as empresas se tornam o que podemos chamar de Organizações Adaptativas, ou seja, a agilidade é a chave para desenvolves as competências da organização, e onde se torna altamente adaptável e busca a antifragilidade.
Nossa experiência mostra que, na média, as empresas no Brasil estão na transição entre a segunda e terceira onda. Uma análise setorial mostra mais variação. Companhias de setores mais tradicionais e com décadas de existência estão nos estágios iniciais. Já startups e grandes empresas fundadas na última década, que nasceram digitais, estão no quarto estágio.
Podemos dividir os desafios das grandes organizações são dois: tecnológicos e culturais.
O primeiro pode ser resolvido com a adoção de tecnologias digitais modernas, como cloud, e a troca dos sistemas legados e processos antigos, o que demanda alto investimento e esforço sem impactar e prejudicar as operações existentes. Já o segundo depende de mudança de mentalidade das pessoas – algo que pode ser mais complexo de que a adoção de novas tecnologias.
O estudo da NTT DATA mostrou que 72% das organizações entrevistadas apontaram a cultura organizacional como o maior obstáculo para a transformação ágil. Há uma dificuldade de os profissionais aceitarem a mudança e se adaptarem aos novos frameworks.
Parte dessas mudança depende de a liderança abraçar a filosofia ágil. Quase 70% dos executivos e especialistas entrevistados disseram que convencer os líderes das equipes a adotar Agilidade é um dos principais obstáculos a ser enfrentados.
O problema é conhecido: a resistência às mudanças. A Agilidade exige profissionais que se sintam confortáveis em sair da zona de conforto e aprendam a trabalhar de uma outra forma. Nem todos estão dispostos a isso. Não por acaso, “resistência à mudança” foi um desafio apontado por 61% dos entrevistados.
Encarar esse desafio vale a pena. A Agilidade traz diversos resultados. Cerca de 60% dos entrevistados afirmaram que a implantação da agilidade aumentou a entrega de produtos e serviços; 56% viram ganhos de produtividade; e 56%, maior capacidade para lidar com a mudança de prioridades.
À medida que as empresas abraçarem mais e mais a Agilidade, veremos esses resultados crescerem de forma exponencial. Bom para as empresas e bom para o Brasil, que terá organizações mais eficientes e produtivas.